terça-feira, 2 de março de 2010

CARTA ABERTA À COMUNIDADE CEL. QUITO JUNQUEIRA.

Uma reflexão inicial

Nos últimos tempos vivemos em um mundo cada vez mais complexo e difícil de explicar. A humanidade submerge em um oceano de contradições: o progresso técnico-científico já permitiu o homem ir à lua, explorar Marte e lançar satélites no espaço que nos vigiam 24 horas por dia: um verdadeiro big brother global.

Os avanços na engenharia genética elevaram o homem numa condição perigosa de brincar de Deus quando se deslumbrou com a idéia da clonagem.

Por outro lado convivemos ainda com a discriminação étnica, a miséria, a pobreza e a fome ao lado da ostentação e da riqueza. Convivemos ainda com a fome de Cultura, de Arte e de Educação, que ainda sobrevivem mais pelos heróis idealistas que com valentia levantam suas bandeiras do que pelos minguados e irrisórios recursos destinados a estas nobres áreas de formação do ser humano e da identidade de um povo.

Convivemos ainda com a gritante desigualdade social, com a exploração do homem pelo homem, a exploração do trabalho: as novas e velhas formas de escravidão, a exploração dos recursos naturais com o objetivo de acumulação de riqueza material de pequenos grupos em detrimento da maioria. Convivemos com os custos ambientais causados por grandes grupos empresariais descomprometidos com uma causa social.
Convivemos com uma mídia omissa e conivente que transfere para a grande população toda responsabilidade dos problemas ambientais ao limitar a causa destes problemas ao banho demorado e ao lixo jogado no chão. Quem dera a reciclagem e a economia de água e energia doméstica fosse a solução dos problemas ambientais. Quem dera o consumo de água e a geração do lixo no nível doméstico fosse a ponta do iceberg. Não! É apenas uma molécula desse gigantesco ‘iceberg’.

Caso a sociedade não reflita acerca dos seus paradigmas de desenvolvimento, de produção e de modelo de vida, continuará caminhando a passos largos rumo à extinção.

Mas não vim para anunciar o apocalipse. O que seria de nós sem a esperança? Existem infinitas alternativas na tecnologia e na ciência que podem tudo. Isso mesmo: tudo. Podem destruir o planeta, mas podem reconstruí-lo também. Podem torná-lo um paraíso. A diferença está no modo em que são usadas. Como, quando, por que e para quem são usadas? O que há de errado então?

Estão erradas as prioridades e a escala de valores da humanidade. Muitas pessoas não têm um projeto de vida e não se preocupam com sua essência espiritual. Nos ensinam que para se dar bem na vida basta ter o carro do ano e a roupa da moda. Ser bonito é ser esbelto, bombado e jovem, não importa a cultura. Ser bela se resume ao corpo modelo, não importa a saúde. Princípios éticos e morais? Em que espaço são discutidos? Vivemos um mundo de contradições pois o homem não passou seus conhecimentos técnicos e científicos pelo filtro da ética.

O homem pode dar tantas e quantas voltas quiser para tentar resolver a crise ambiental, que antes de qualquer coisa é uma crise de valores da humanidade. No final ele não terá dúvidas que o caminho é a Educação.

Avaliação do projeto

Diante desta constatação e com o compromisso de provocar esta reflexão na comunidade escolar “Cel. Quito Junqueira” foi iniciado em meados de 2008 um projeto de Educação Ambiental. Foi decidido que a compostagem seria o eixo norteador da discussão das questões ambientais locais e globais. Todas as atividades desenvolvidas durante o ano de 2008 e 2009 foram fundamentadas nos princípios da formação de um ser humano comprometido com a solidariedade, a cooperação, o respeito ao próximo e à Natureza. As atividades foram também respaldadas pelas diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais que pressupõe um processo educativo que conjuga conteúdos e ação cidadã.

O que era lixo na escola foi transformado em adubo. Esta foi a mudança mais evidente, mas a mais significativa se deu no campo da sensibilização para as questões ambientais, na quebra de preconceitos e na reflexão crítica acerca dos moldes de nossa sociedade consumista insustentável.

Um projeto desta natureza jamais passa em vão, pressupõe o envolvimento de toda a comunidade escolar, requer mudança de comportamentos e de hábitos, revisão de paradigmas, disposição e compromisso não só de uma pessoa ou um grupo de pessoas, mas de todos.

Esse foi nosso maior desafio, mas como a água que busca o mar e persistente vence penhascos, barreiras e até montanhas, as grandes ondas foram vencidas e o projeto não morreu na praia. Na medida do possível cada professor ofereceu sua contribuição, a comunidade se envolveu, pais de alunos participaram de palestras e usufruíram do adubo produzido pelos próprios filhos. Universitários tiveram a oportunidade de contemplar a importância de a teoria caminhar lado a lado com a prática. Aprenderam e ensinaram nos estágios que realizaram na escola.

Os alunos foram os verdadeiros protagonistas e autores na grande parte das atividades, desde a gênese do projeto quando foram convidados a batizá-lo, por meio de um concurso.

Assim o projeto saiu do papel, virou realidade, alterou a rotina, movimentou a escola e sugeriu um novo conceito de Educação. Com o respeito à autonomia dos educandos, com a colaboração de professores, inspetores e funcionários o projeto tornou-se modelo. Sua influência extrapolou os limites deste lugarzinho especial e ganhou o mundo por meio do ambiente virtual “Blog”. Agora é referência para projetos de Educação Ambiental em instituições diversas, principalmente as educacionais.

Diversos fatores tornaram inviável coordenar a atividade de compostagem no ano de 2010. Apesar disso, fica a sensação de dever cumprido além das expectativas iniciais. Mais do que isso, fica um agradecimento a todos os que solidarizaram, sensibilizaram e estenderam a mão neste árduo, porém, gratificante oficio de educar.

Um agradecimento especialíssimo aos agentes ambientais, alunos monitores, que não mediram esforços e sensibilizados pela questão ambiental foram os principais responsáveis pelo sucesso do projeto. Por vocês todo o esforço valeu a pena.

Encerrou-se uma atividade, mas não o ideal de uma sociedade mais justa e sustentável, o projeto continua vivo dentro de cada um daqueles que se sensibilizaram. As sementes foram e estão sendo lançadas, muitos frutos já renderam e outros virão no médio e longo prazo. “Um educador sempre afeta a eternidade, ele nunca saberá onde sua influência termina”.(Henry Adans – historiador norte americano)

Ainda tem muitos resultados inéditos realizados na vigência do projeto que não foram postados. O blog continuará sendo atualizado, sempre que possível. Continuem acompanhando.

Que as várias vozes e talentos que ecoam pela continuidade e permanência do projeto sejam sabiamente aproveitados em novas oportunidades nesta escola e pela vida afora.

Para finalizar deixo uma frase em homenagem aos meus alunos e amigos que militam no ideal comum da Educação:

“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática” Paulo Freire.
Muito obrigado.

Aristóteles Teobaldo Neto – Coordenador do projeto.